CEREJAS MADURAS.
Dos vocábulos
faço meu mundo,
tão fecundo espaço,
enrolo a língua e aqueço
o verbo,
depois me sacio na
leitura dos meus
próprios versos,
olho da janela,
lá fora
a noite me amanhece,
a mão da vida me acena,
e as varias bocas do mundo
me bebem,
sou um liquido qualquer
na taça,
um elemento volátil,
e uma emoção fugaz,
eu, na varanda da ilusão,
enquanto lá no fundo
no rádio de pilha,
uma musica toca,
e me penetra a alma,
resvalo no homem bruto
que nasceu para enfrentar
o mundo,
me aninho no parapeito
de cedro,
e enquanto os vocábulos
despencam,
como chuva de inspiração,
vou me construindo
um tanto madrigal,
não sou de tudo bom
para inventos delicados,
mas, confesso esta noite
me pegou de um jeito
só dela,
me apertou,e me pôs
a pensar,
ah, e os tais vocábulos,
são como cerejas maduras,
que a noite mandou
para me saciar.