Você consegue chegar a tempo?

Não se trata mais de amor ou desamor,

mas sim de poesias que ao saírem

não se veem satisfeitas.

Só tenho mais um cigarro,

se eu o acender vou o perder,

mas amanhã ele não será mais o mesmo.

Mudei decorações,

mudei de quarto,

mas a horizontalidade branca amarelada

parece ainda aguardar o tempo ser,

mais uma vez,

consumido

pelo lápis que desenhou os olhos,

ou a voz vacilante que saiu, sem aviso,

da minha garganta.

Hoje chove,

e cada gota que ouço tocar as calhas

me lembra de quando a deixei ir,

e quando os cigarros não bastavam.

Aposto que não chove na tua casa,

não essa noite.

Vejo plural,

mesmo sendo singular,

vejo cabelos enrolados nas paredes,

mas não me atrevo a abrir certas caixas.

Ainda tenho guardada nossa última foto,

a luz vermelha a desenhar seu rosto perto do meu,

e um sorriso que a tudo esqueceu e perdoou.

Não se trata mais de amor ou desamor,

mas sim de como você iria desaprovar

ao me ver com esse cigarro por acender.

Espero que você chegue a tempo de tirar ele dos meus lábios.