PERDIDA
Tantas coisas espreitavam pelos cantos.
Tantos olhares se esgueiravam pelas frestas.
Que no fim
Bem no fim
No final do desespero
Só havia as mãos suadas.
As pupilas dilatadas.
Os pelos arrepiados.
Da criança perdida
Da criança que não enxergava os pais na multidão.
Quando as mãozinhas se soltaram
A menina olhou para os lados.
Olhou em busca de quem lhe guardava
Mas só viu olhos estranhos
Desconhecidos
Olhares de quem viraria monstro somente para devorá-la.
Perdida entre joelhos
Ela andou a esmo
As lágrimas enchiam olhos desesperados
E escorriam pelo rosto infantil.
O choro mudo de medo.
Mas lá ao longe havia um desconhecido
Um desconhecido diferente dos demais.
Um desconhecido de braços abertos
E um pirulito em uma das mãos.
Um desconhecido que parecia conhecido.
Um desconhecido que não a assustava.
Um desconhecido que não queria devora-la.
Parecia.
Então ela correu
Correu para aqueles braços abertos
Correu entre a multidão
Correu para aquela estranho
Correu para nunca mais voltar
Correu
Correu para abraçar a morte.