FERTIFECUNDO
em cima d’um galho de cajueiro,
um canário-da-terra
a dobrar o canto
noticia:
— Fertifecundo, descoberto!
Fertifecundo,
até então, não sabia
o que era o neo do neo do Velho Mundo
Nele,
de pés no chão,
feijões brotam sem precisar dos berçários de algodão;
Nele, tudo é festa e reprodução:
das Marias-sem-vergonha aos ouriços-do-mar
chegada a ciência à terra,
Fertifecundo ficou tal qual às velhas,
a jogar paciência em cima das cadeiras dos abrigos,
a esmiuçar os olhos sobre livros com bolor
[avô]
quando nem sabe mais as cores que lê,
por falta de bulas ou lentes
— Fertifecundo, bafio?
Nele,
de céu no espaço,
vaga-lumes acendem-se qual lampiões naturais, a todo gás;
enquanto há ciúme pela lua
[em função]
tamanha multidão de discos-voadores
— Fertifecundo, reluz!
igual a tantos outros, neste mundo,
Fertifecundo se livrará da praga que Noé rogou para o amanhã:
o passeios botafoguenses de Copacabana preto e branco será
assim como
a galeota Gratidão do Povo, qual casca de noz,
levará
[em todo primeiro de janeiro]
a imagem de Bom Jesus dos Navegantes
— Fertifecundo, pródigo!
em cima d’um galho de cajueiro,
um canário-da-terra,
feliz por ser fertifecundense,
não pára de repicar, orgulhoso, seu cantar
enquanto
um bicho de araçá, maduro,
tosse minhocas
— Fertifecundo é chão!