AMAR


Sem saber como, amar pleno de ausência,
        Fogo das horas
Cúmplices, entre rigores e acasos,
Dentro de fábula em curso furtivo
  Quando segredo é sentido.

Outros compensem com jogos seu medo,
        Ogro faminto,
Amo de espírito e corpo, e querê-la
Traz mais verdade aos assombros do agora
  Que elaborar nossas culpas.

Mudo o querer, por decoro interdito,
        Pena ou capricho,
Rompe de súbito as travas e aldravas
Disso que há tanto o continha, relíquia
  Mais que profana do mito.

Venho de busca velada nos dias
    Sob duros céus,
Pelos seus haustos gentis desdenhando
Flâmula, louro e troféus perseguidos
  Pelo que não pode amá-la.

Quantos cantaram seu nome sagrado
    Indignamente!
Muitos fizeram-lhe a corte e, em vão,
Frívola estátua cravaram na testa
  Dessa cidade sem lei.

Por alamedas de encantos sem prazo,
        Rosas à espreita,
Contra as sentenças do breve, amar tanto
Quanto o suporte o durar nosso espírito,
  Pira que a brisa constrange.

Deixas que a incêndio sugiram convite,
        Senha de urgências,
Língua dileta em dialeto que a amor
Seja o evangelho, o grimório, a cabala
  Sobre as linguagens do mundo.

Cores de amar sem saber como ou quandos,
        Sangra, a memória!
Dores, que a mira dum deus secundando,
Falam de chama que dança e consome,
  Poses em farsa que evito.

Amo, e sabê-lo será meu emblema
        Entre os que choram.
Longe, na antiga colina, suspiros
Surdos, sem rumo, farejam meu rasto
  No entardecer, previsíveis.


.

 
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 23/10/2017
Reeditado em 24/10/2017
Código do texto: T6150324
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.