CORUJA

Asas pousadas

Olhos atentos

Repicam os sinos do campanário.

A coruja na quina do telhado

Pipia seu canto aziago

Trazendo sobre mim

Algo de muito trágico.

Ó coruja sábia

Por que só sabes anunciar a morte?

Não a ensinaram que na vida há mais valor?

Por que insistes em mostrar aos homens rasos

A ciência exata e fria do fim e da sepultura?

Não te esqueças nunca

Ó agourenta e bela coruja

Que só tu podes capturar

A sapiência entre dois mundos.

Aos homens só é dada a dádiva

De obter uma sabedoria por vez.

Por isso, coruja, controle

Seu canto gnose de morte,

De sentença de dura pena.

Limite-se ao canto sem melodia

Da beira do telhado que habita

Ou bata suas asas gris para longe

E silencie os sinos surdos da igreja.

Deixe para pipiar, quando de fato,

Minha derradeira hora chegar.

Hoje, não morrerei nem serei mais sábio.

Serei apenas um humano sem anúncios.