ONDE NASCI.
Onde nasci
era uma ilha de solidão,
só se ouvia a linguística
das aves, e os uivos dos
grotões,
quase tudo tive que inventar,
criei minha própria
liturgia,
só mais tarde conheci a
língua dos graúdos,
foi quando comecei a
desaprender a vida,
antes comia os esses
sem nenhuma pena,
usava com prazer a oralidade
do desconhecido,
o que me importava eram
os ecos que devolviam,
córregos me emancipavam,
a poeira eram meus livros,
por elas descrevia as varias
falas do amor,
o vento passava e levava
os sentidos,
nenhum mestre da ilha
me apontava o dedo,
comíamos no mesmo
prato,
mas veja como castiga o
destino,
hoje tenho livros e regras,
quase não invento,
mas confesso nada de
novo me traz sabedoria.