Discurso da Inação Humana
Você acordou com o som da chuva,
co ‘as gotas tilintando nos vidros da tua janela,
co vento farfalhando os galhos duma árvore
que há muito estava em teu quintal.
Você já quis cortá-la,
Pois insetos na primavera ela atraía,
Pois sombras onde devia no verão ela não fazia,
Pois suas folhas caíam no outono e o quintal enchia,
Pela casa entravam, e trabalho davam.
E, no inverno secava,
Um aspecto tão lúgubre a tua casa dava,
Que estava decidido,
A cortaria tão breve fosse conseguido.
Mas os dias passaram, e você sempre atarefado,
Os meses passaram, e você sempre preocupado,
Os anos passaram, e você envelheceu,
E contigo envelheceu aquela árvore também.
Antes, se o som dos galhos você temia,
Aos teus ouvidos, hoje são tua única companhia.