COLETÃNEA IMORTAIS
Co-autor: Carlos Roberto Fernandes
Poema: "Terra das Gerais"
páginas: 229-231
(Editora Alernativa - Porto Alegre/RS)
Ano 2017
ISBN: 978-859304321-5
Nasci nas Minas Gerais
Sem ouro, sem diamantes:
Geral mesmo, os matagais
dos poucos campos restantes.
num serpenteio de rios,
com segredos, várias minas,
tem Uberaba seus fios
em meio a sete colinas.
Na colina Cuiabá,
também morro das Mercês,
fiz potente patuá
para não faltar freguês.
Na colina da Cidade
- alto de São Benedito -
procurei vã castidade
em permanente conflito.
No Leblon ou Barro Preto,
haja coragem ou medo,
quase tornei-me graveto
por amores de arremedo.
No alto da Misericórdia,
também chamado Abadia,
busquei sossego, concórdia
entre as pernas da folia.
No monte Estados Unidos,
cheio de manhas e dengos,
tive prazeres, gemidos
em milharais solarengos.
Local de jeito brejeiro,
lá pro monte da Estação,
sempre buscava, cabreiro,
os trilhos no pontilhão.
Por fim, ai que Boa Vista!
De lá posso ver de tudo:
do suor do maquinista
ao coqueiro-cabeçudo.
... Colina, Alto, Morro ou Monte
- o nome não importa tanto –
Uberaba faz a ponte
pros córregos do meu pranto.
... Córregos tão cristalinos
viraram rotas do esgoto:
nos planos dos desatinos,
muito verdor está morto.
Sobre “corgos” avenidas,
inquietas e transtornadas,
fazem cursos ecocidas
de concreto, entrincheiradas.
Tamanhas águas sofridas,
sem mana morubixaba,
desaguam suas feridas
no formoso rio Uberaba ...
Deixei o rio, a mata, a fonte.
Córregos não vejo mais.
Onde fica o horizonte
para os vales dos meus ais?...
distantes, mas não ausentes
com mudas mãos enrugadas,
ainda temos nascentes
brotando nestas estradas.
... Estarei noutros quintais
sem deixar de ser mineiro:
quem é de Minas Gerais
pertence ao Brasil inteiro.
_______________
Originalmente publicado no livro "CORPOS MARCADOS", Autor: Carlos Fernandes, Editora Scortecci, 2017, p. 53-55
Co-autor: Carlos Roberto Fernandes
Poema: "Terra das Gerais"
páginas: 229-231
(Editora Alernativa - Porto Alegre/RS)
Ano 2017
ISBN: 978-859304321-5
TERRA DAS GERAIS
Nasci nas Minas Gerais
Sem ouro, sem diamantes:
Geral mesmo, os matagais
dos poucos campos restantes.
num serpenteio de rios,
com segredos, várias minas,
tem Uberaba seus fios
em meio a sete colinas.
Na colina Cuiabá,
também morro das Mercês,
fiz potente patuá
para não faltar freguês.
Na colina da Cidade
- alto de São Benedito -
procurei vã castidade
em permanente conflito.
No Leblon ou Barro Preto,
haja coragem ou medo,
quase tornei-me graveto
por amores de arremedo.
No alto da Misericórdia,
também chamado Abadia,
busquei sossego, concórdia
entre as pernas da folia.
No monte Estados Unidos,
cheio de manhas e dengos,
tive prazeres, gemidos
em milharais solarengos.
Local de jeito brejeiro,
lá pro monte da Estação,
sempre buscava, cabreiro,
os trilhos no pontilhão.
Por fim, ai que Boa Vista!
De lá posso ver de tudo:
do suor do maquinista
ao coqueiro-cabeçudo.
... Colina, Alto, Morro ou Monte
- o nome não importa tanto –
Uberaba faz a ponte
pros córregos do meu pranto.
... Córregos tão cristalinos
viraram rotas do esgoto:
nos planos dos desatinos,
muito verdor está morto.
Sobre “corgos” avenidas,
inquietas e transtornadas,
fazem cursos ecocidas
de concreto, entrincheiradas.
Tamanhas águas sofridas,
sem mana morubixaba,
desaguam suas feridas
no formoso rio Uberaba ...
Deixei o rio, a mata, a fonte.
Córregos não vejo mais.
Onde fica o horizonte
para os vales dos meus ais?...
distantes, mas não ausentes
com mudas mãos enrugadas,
ainda temos nascentes
brotando nestas estradas.
... Estarei noutros quintais
sem deixar de ser mineiro:
quem é de Minas Gerais
pertence ao Brasil inteiro.
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Originalmente publicado no livro "CORPOS MARCADOS", Autor: Carlos Fernandes, Editora Scortecci, 2017, p. 53-55