Em palavras
Desde que nasci sempre fui tão resumido
que hoje em dia falo pouco de mim
A verdade é que eu não sei
quem sou eu além um ou três
adjetivos mais ou menos
Numa comparação com outro alguém.
Tudo que eu podia sempre foi tão escondido
que até hoje me procuro
entre a poeira do meu quarto antigo
Pergunto e investigo pistas desse esconde-esconde
que transbordou da infância inconsciente
E ainda mexe comigo.
Me pergunto desde aquele dia como poderia ter sido
Se eu aprendesse a dizer “não” e mais vezes “eu consigo”
Se eu fosse mais curiosa e não aceitasse
de jeito nenhum as coisas do jeito que elas são
Se eu não fosse apenas mais do mesmo
do passado da minha mãe
Se eu me recusasse a viver como os meus pais.
Desde que nasci, sempre fui tão pouco ouvido
Que hoje ainda não sei como fazer
pra sentir vontade de falar mais
Sempre foi tão fácil me calar e assentir
e fazer o melhor de mim para ouvir elogios
e não os gritos - que ainda ecoam, não foram esquecidos
Não sei o que eu faria se tivesse me assumido
como sou, que é diferente de quase tudo que eles são
Se conhecesse o destino dos divergentes
um pouco antes de consentir com a escravidão
Se eu soubesse que não encaixaria
que o amor próprio apelaria
que todo o corpo doeria (dor de não fazer parte)
Tinha lutado, anos atrás pela carta de alforria
E se não existisse, inventaria.
Sempre fui tão consumido
que hoje pouco resta para oferecer
porque ainda há tanto que não conheço de mim
Eu dava o que achava que tinha
Chorava? Não lembro, as lágrimas eu escondia
Vivia um cabo de guerra
E eu, sem saber que não era possível
Me mantinha ali no meio para que ninguém perdesse
Eu era tão incompreendido
e fui criando mil situações para me provar
Soube que só ouvir
não era o suficiente para se fazer entender
Fui perder forças e esforços
em brincar com palavras mudas em papel
Palavras, máquinas do tempo, que me
levam e trazem e me encontram
no profundo silêncio ao qual me acostumei.
Se naquela época eu pudesse ter me lido
Se eu deixasse subentendido
Pegava um avião de papel, uma vassoura de bruxa,
varinha de condão
Qualquer coisa em que ainda acreditasse
e me salvava
Me mostrava como é ser eu
e criava outro caminho
Deixava apagar o rascunho mal feito que fiz de mim.
Será que alguma coisa disso faz sentido?
O que é esse sentimento descabido
Esse pensamento metido
de que podia ser melhor do que eu sou?
Ainda não sei quem sou
O meu futuro temido é que o amanhã tenha sumido
Porque eu não soube viver como se deve
Porque reclamo comigo
Um trauma esquecido
e sigo fingindo que acabou.
Preciso sair do papel.
que hoje em dia falo pouco de mim
A verdade é que eu não sei
quem sou eu além um ou três
adjetivos mais ou menos
Numa comparação com outro alguém.
Tudo que eu podia sempre foi tão escondido
que até hoje me procuro
entre a poeira do meu quarto antigo
Pergunto e investigo pistas desse esconde-esconde
que transbordou da infância inconsciente
E ainda mexe comigo.
Me pergunto desde aquele dia como poderia ter sido
Se eu aprendesse a dizer “não” e mais vezes “eu consigo”
Se eu fosse mais curiosa e não aceitasse
de jeito nenhum as coisas do jeito que elas são
Se eu não fosse apenas mais do mesmo
do passado da minha mãe
Se eu me recusasse a viver como os meus pais.
Desde que nasci, sempre fui tão pouco ouvido
Que hoje ainda não sei como fazer
pra sentir vontade de falar mais
Sempre foi tão fácil me calar e assentir
e fazer o melhor de mim para ouvir elogios
e não os gritos - que ainda ecoam, não foram esquecidos
Não sei o que eu faria se tivesse me assumido
como sou, que é diferente de quase tudo que eles são
Se conhecesse o destino dos divergentes
um pouco antes de consentir com a escravidão
Se eu soubesse que não encaixaria
que o amor próprio apelaria
que todo o corpo doeria (dor de não fazer parte)
Tinha lutado, anos atrás pela carta de alforria
E se não existisse, inventaria.
Sempre fui tão consumido
que hoje pouco resta para oferecer
porque ainda há tanto que não conheço de mim
Eu dava o que achava que tinha
Chorava? Não lembro, as lágrimas eu escondia
Vivia um cabo de guerra
E eu, sem saber que não era possível
Me mantinha ali no meio para que ninguém perdesse
Eu era tão incompreendido
e fui criando mil situações para me provar
Soube que só ouvir
não era o suficiente para se fazer entender
Fui perder forças e esforços
em brincar com palavras mudas em papel
Palavras, máquinas do tempo, que me
levam e trazem e me encontram
no profundo silêncio ao qual me acostumei.
Se naquela época eu pudesse ter me lido
Se eu deixasse subentendido
Pegava um avião de papel, uma vassoura de bruxa,
varinha de condão
Qualquer coisa em que ainda acreditasse
e me salvava
Me mostrava como é ser eu
e criava outro caminho
Deixava apagar o rascunho mal feito que fiz de mim.
Será que alguma coisa disso faz sentido?
O que é esse sentimento descabido
Esse pensamento metido
de que podia ser melhor do que eu sou?
Ainda não sei quem sou
O meu futuro temido é que o amanhã tenha sumido
Porque eu não soube viver como se deve
Porque reclamo comigo
Um trauma esquecido
e sigo fingindo que acabou.
Preciso sair do papel.