ODE AO ÓDIO
Anjo ou Virtude que num ser cumprisse meio e fim,
Quem lhe fará justiça ao celebrá-lo sem paixão?
Tive um vislumbre – febre das visões que vão nutrindo
Almas inquietas nas manhãs sem culpa – era a Beleza,
A conduzir meu passo em trilha ao Jardim dos Silêncios,
Guia suspeita? Abstive-me de escrúpulo ou sentenças
Diante do filho de Razão e Caos, perplexa calma.
Qual o que não sabe se ainda sonha ou se o desperta o dia,
Vi nos encantos de seu porte austero o aceno à mente
Fria, mais nua de ilusões que as decepções do amor.
Algo de eterno assiste, ainda, pelo humano espírito,
Dado que sofre, sem discernimento, a epifania,
Pleno em revérbero que lhe insinua abstrusos mundos.
Onde, em redor, quem me indicasse as veredas do Ódio?
Nem minha guia, por si só, o faria por capricho
Quando na estância a esmo me encontrasse – é do Destino
Férreo o critério ao que se dá, a cascata dos eventos.
“Temes?”, pergunta-me Beleza, imperturbável, “Tremes?”
Mudo de espanto, concentrado no ruflar das asas,
Fonte de ventos mais sutis que o discurso dos mortos,
Nada pensando que não fosse, então, de todo inútil.
“Alça seu vôo para terras desoladas, migra
Pelas demandas de decreto ignoto”, diz Beleza.
Tudo em seu ser, Anjo ou Virtude, me afirmava o céu
Mais ao alcance de orgulhosos zigurates negros,
E a noite submergira em seu olhar sem branco ou íris.
Onde aprenderam, pois, seu nome, os homens sem valor?
“Temem pois nunca o conheceram”, diz Beleza, “Temem
Pois medo é a natureza desses homens sem valor”.
Nada dizer ao tolo em seu prejuízo, a nada atende,
Disse algum sábio – o engano ao tolo é regra irrevogável.
Vi, na ascensão, além dos cúmulos do ambíguo outubro,
Quão pequenino, em mim, jazia em mesquinhez e dolo,
Mínima essência ou dom mal pressentido, enfim – reguei
Com suficiente sangue os campos da antiga promessa?
Trilhei, com meu arado, escápulas dos desafetos?
Um firmamento em convulsões de púrpuras e rubros
Veio a ser tudo que extorqui do céu como resposta,
Nuvens em branda caravana emoldurando o dia.
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Anjo ou Virtude que num ser cumprisse meio e fim,
Quem lhe fará justiça ao celebrá-lo sem paixão?
Tive um vislumbre – febre das visões que vão nutrindo
Almas inquietas nas manhãs sem culpa – era a Beleza,
A conduzir meu passo em trilha ao Jardim dos Silêncios,
Guia suspeita? Abstive-me de escrúpulo ou sentenças
Diante do filho de Razão e Caos, perplexa calma.
Qual o que não sabe se ainda sonha ou se o desperta o dia,
Vi nos encantos de seu porte austero o aceno à mente
Fria, mais nua de ilusões que as decepções do amor.
Algo de eterno assiste, ainda, pelo humano espírito,
Dado que sofre, sem discernimento, a epifania,
Pleno em revérbero que lhe insinua abstrusos mundos.
Onde, em redor, quem me indicasse as veredas do Ódio?
Nem minha guia, por si só, o faria por capricho
Quando na estância a esmo me encontrasse – é do Destino
Férreo o critério ao que se dá, a cascata dos eventos.
“Temes?”, pergunta-me Beleza, imperturbável, “Tremes?”
Mudo de espanto, concentrado no ruflar das asas,
Fonte de ventos mais sutis que o discurso dos mortos,
Nada pensando que não fosse, então, de todo inútil.
“Alça seu vôo para terras desoladas, migra
Pelas demandas de decreto ignoto”, diz Beleza.
Tudo em seu ser, Anjo ou Virtude, me afirmava o céu
Mais ao alcance de orgulhosos zigurates negros,
E a noite submergira em seu olhar sem branco ou íris.
Onde aprenderam, pois, seu nome, os homens sem valor?
“Temem pois nunca o conheceram”, diz Beleza, “Temem
Pois medo é a natureza desses homens sem valor”.
Nada dizer ao tolo em seu prejuízo, a nada atende,
Disse algum sábio – o engano ao tolo é regra irrevogável.
Vi, na ascensão, além dos cúmulos do ambíguo outubro,
Quão pequenino, em mim, jazia em mesquinhez e dolo,
Mínima essência ou dom mal pressentido, enfim – reguei
Com suficiente sangue os campos da antiga promessa?
Trilhei, com meu arado, escápulas dos desafetos?
Um firmamento em convulsões de púrpuras e rubros
Veio a ser tudo que extorqui do céu como resposta,
Nuvens em branda caravana emoldurando o dia.
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