Do Choro

Em silêncio, chora na voz da tola risada :

muda dor alada; com asas de ir-embora;

que não vai; demora no riso, a exilada;

cá, dentro do nada; vendo alegria fora.

Dói sim, sofrimento! dor é faca da ternura.

Na fome escura, não ao branco alimento...

ao nutrir de vento no vão da dental brancura!

Não à mordedura do mordaz riso isento!

Chora-se bisturi! embora nunca bem-vindo

pela boca rindo que, só por ser dentes, ri.

Não desdenha de si, quem nega rir, se ferindo...

quem provê a lenha, numa fogueira do siso,

pro queimar preciso da dor que contém a senha

e que se embrenha no breu do puro sorriso.

Torre Três

04-10-2017

Torre Três (R P)
Enviado por Torre Três (R P) em 04/10/2017
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