Sexta

eu ainda me lembro

das sextas da minha infância

quando eu era duplamente pétala e pólen

pólen sem insecto.

naquele tempo

a realidade inteira se enjaulava

em uma gaiola costurada de ilusões

e eu cá fora, céu escancarado

dançava, celebrando os meus sonhos

sonhos que molhavam todo o meu corpo e alma

molhavam-me os dias todos.

ainda me lembro

das manhãs alegres de sábado

quando não haviam pedras entaladas

nas gargantas alheias para me ferir

e só haviam pétalas para florir

embelezando os olhos de quem me via.

e era assim

que todos perfumavam a cidadela de amor

quando não havia idade

não havia tempo

apenas eternidade.