O arauto
Para tudo deveria haver um mensageiro
e há,
por vezes ele não tem o endereço,
ou defronta-se com um cachorro travesso
e devolve ao remetente,
tudo deveria ser anunciado,
desconhecer não poderia ser alegado,
não haveria de repente,
e de nada seríamos descrentes,
sempre haveria tempo para a esquiva,
nada e ninguém andaria à deriva,
rotas previamente elaboradas,
não haveria mal súbito,
o coração daria sinais,
não haveria provas surpresas,
nem pratos estranhos na mesa,
ou despedidas não esperadas,
nunca seríamos tomados de assalto,
sempre estaríamos em guarda,
o mensageiro seria o cavaleiro,
nunca calmarias impediriam descobrimentos,
nem fortes ventos trariam o tormento,
e, à noite, anunciando à véspera meu texto,
na verdade se antecipando à inspiração,
me conta o que vou dizer,
então posso dormir sem medo de esquecer,
e não sem antes, eu contar ao sono uma oração