GOIÂNIA (in: Goiânia Post-Mortem)

Cidade de ódios e amores,

Êxtases e rancores,

Espíritos elevados

E variação de humores.

Minha filha foi batizada por uma filha tua,

Aquela mesma,

Que me lançou à amargurada rua

Da solidão.

Prefiro o "não!"

A qualquer malfadado Plano

Ao qual quis a Providência desgraçar

E agourar.

Ninguém há que me possa amar

E por isso sofro

Dessa carência infantil

De ter alguém,

Desejar alguém

Muito além do que se imagina.

É um rio

Que se cala

Mas fala, é tanto que fala!

Contemplem, ó goianos!

Vossa mãe querida

Que tantas alegrias momentâneas nos trouxe

E tantas tristezas e feridas,

Indeléveis e eternas,

Causou-nos por todos esses anos.

Ó Goiânia,

Tu, com teus cidadãos infantes

E praças arborizadas,

Tardes escaldantes

E chuvas serôdias,

Já foste objeto de meu desejo e ambição!

Outrora sonhara eu em ser um teu artesão:

Compunha-te odes e canções

Louvando teus belos bosques e monumentos,

Pintava-lhe os sabores das flores

E as cores das torres,

Mas com tuas súbitas variações diacomáticas,

Vi-me em um momento,

Cercado por miasmas pungentes

E fui abandonado

À minha própria sorte

Às portas de uma morte

Tão lenta, tão sofredora

Que não lamentaria que ela

Se consumasse agora.