ANJO CEGO
Da janela do meu quarto
assisti a um parto;
uma mulher grã-fina
dava luz a uma menina.
Doava seus olhos verdes
para matar a sede
da pequenina bonequinha,
que nem a visão tinha.
Na sala de operação,
uma grande emoção.
Ao se identificar,
a mulher pôs-se a chorar,
pois aqueles olhinhos sem luz
pertenciam a quem ela dera á luz.
Só que pela fama
ela os abandonara na cama
daquele mesmo hospital,
deixando-os quase mortos.
Sem o seu calor materno
para seguir a vida do inferno.
Arrependida da vida errada
imediatamente ela quer ser operada.
Para dar àquela criança
uma vida de luz e esperança.
É feita a operação
e hoje um anjo, a puxa pela mão.
Só que, quem viveu pelo prazer
hoje não vê esse anjo crescer.
Nova Serrana (MG), 17 de setembro de 1985.