O Medo É Uma Goteira
o medo é tal goteira
que pinga e pinga nos pensamentos
e que enfraquece a minha certeza
dos caminhos aonde levas-me tu
e embaraçam-me os sentimentos
revoltos como em correnteza.
e os teus pequeninos todos
os que têm fome e encontram-se agora
todos os dias e em todas as horas
embriagados de dores submersas suas
e as mulheres perdidas nas curvas
suas e da vida, efêmeras: vida e curvas...
vida que dói e que grita
e eu penso neles e no mundo demais
e tu criaste todas as coisas
e à mim... ser tão confuso teu
dá-me forças, pai, dá-me forças
o mundo faz barulho ensurdecedor.
ergue, desta tua flor, a haste
para que eu volte lá como me ensinaste
quando tu, por amor, me chamaste.
torna-me na mais pequenina
que a forma de amar seja flor
mesmo com cara de espanto e de dor
fortalece, assim, o meu espírito
traz humildade ao meu coração
traz sempre muita gratidão
aponta-me lugares de servidão
aonde tu possas transformar-me, por amor
em tua estendida mão.
e a goteira que pinga e pinga
do medo nas minhas fraquezas
transforme-se em fresco orvalho
na face minha e da outra flor
na face dos filhos teus
e seja aos que sentem, da vida, o cansaço
repouso... refúgio... abraço... agasalho.
dá-nos verdade.
dá-nos coragem
para vivermos a tua verdade.
livra-nos de nós, pai... por amor
livra-nos de nós.
e lembra-me que eu nunca estarei só.
Karla Mello
23 de Setembro de 2017