SOU SIM

Sou sim

caboclo roto

brasileiro

piso em brasa

e tenho fé torta

ceticismo intenso

mas tento

incenso

e tarô

missa

reza brava

sou assim:

barba rala

fala pouca

timidez

um tanto contido

noutro transbordo

um finca âncoras

outra navega

Sou sim

único

e dividido

rimo

por dor

por não saber me ferir

com faca

telha

caco

rimo assim:

lua e lobo

pêlo e pele

e choro na lua cheia

não rio

sou mais praia

areia

nada de mar

é muito medo

mistério

água me assombra

Sou sim

meio a toa

quase ateu

mas reverencio

deus

krishna

e o tao

não dou sopa

não marco toca

cutuco fera

e me vejo

indefeso

sou assim:

louco

mas só um pouco

de fato

quando lúcido

soluço

sem véu vejo tudo

sem solução

danação e caos

danço

piro

reviro-me pelo avesso

novo

respiro

de novo

refaço-me

remendo

colcha de retalhos

inteiro

talho por talho

navalha

aço

ferro

Sou sim

fera

presa fácil

cidade

onde uivo

no quieto do meu dentro

faço vento

tempestade

solto todos

os bichos

e medos

enredo diverso

inverto ordem

e faço meu

todo o universo

nestes versos toscos

tudo é meu

crio

lavra que sai

como água

sou fonte

e me bebo

até o embriago

último trago

verso

traço e ponto.