Aprendizados tardios.
Quando eu era criança,
Parecia que nada mudava
As pessoas sempre as mesmas
A mesma ladainha á tarde.
E no outro dia,
No outro e no outro
Tudo igual
Mas a gente crescia
sem perceber ninguém envelhecendo
Sem notar os passarinhos sumindo
O bairro mudando
As vidas escorrendo no tempo
tão silenciosas e vagorosas
que só me dei conta de como são frágeis as ilusões
Quando chorei minhas primeiras perdas.
E depois de um tempo
O que restou da única verdade que ate ali eu conhecia
Ja nao tinha o mesmo brilho, o mesmo viço de antes.
E hoje quando passo, acenos e sorrisos novos, sinceros
Correndo nas calçadas, jogando bola , com bonecas.
Nos portões e janelas, cabelos brancos tão belos
Olhares atentos, as vezes severos,
Mas com uma doçura que eu nunca tinha percebido antes
Mesmo com a dura voz que ralhando um traquineiro
e a tentativa de mostrar o aborrecimento,
No caminhar lento, escorado em paredes.
Muitos partiram cedo
antes que eu pudesse dizer-lhes de suas belezas
De como suas vidas marcavam a minha
sem que soubessem...
Foram sem nenhuma ranzinzisse
No máximo de suas chateações
Diziam: Deus tá vendo tudo!
E acho que estava mesmo...
Sempre me pego pensando:
Como estariam agora?
O que diriam se me vissem
E meu olhos marejados de saudade?
E é nisso que me apego
Quando lembro que a hora não tem hora
Que o tempo leva tudo embora
Até os aborrecimentos
E o que fica
É uma certeza que dói muito mais que a saudade:
Eu deveria ter vivo mais.
Eu queria ter vivido mais,
Ter abraçado mais, olhado mais para as pessoas,
sentido o que elas sentiam
tê-las feito sorrir mais vezes
ouvido conselhos
sentado para ouvir histórias por longas horas...
Mas aquela urgência em descobrir tudo a minha volta
Tudo ao mesmo tempo, sem conhecer muito de nada
Querendo espaço na vida de todos
Naquela inocência de que nada se acaba
Não me deixou perceber
A falta que me fariam
E que só as lembranças restariam
dessa minha Felicidade...
O que me consola
É que, como antes,
Muitos me olham e poucos me vêem
E talvez meu valor esteja escondido
Nas entrelinhas das vidas
Que abraço e que me abraçam, sem que percebamos.
As minhas marras e birras
Minhas loucuras
E meus entendimentos
Ou quem sabe amor que sinto
Sem saber dizer direito
Possam me fazer-me importante
E eu esteja lá, adiante
sendo parte lembrada da história de alguém,
Que vez outra acene quando eu estiver na janela
Em meus passos lentos andado na calçada,
Para que eu possa sorrir com encanto e gratidão.
Quem sabe, imortalizada em algum coraçao
Como tantos estão no meu, sempre lembrados, depois que eu partir.
Não sei se é lição.
Tudo o que sei , é que sei bem pouco para entender a vida.
Quando poderia amar estava vivendo e nao amei o suficente
E hoje queria ter amado mais porque não vivo,
Aguardo a morte, que é mais próxima que antes e é certa
Sem que se passe um ünico dia,
Que eu não pense ou diga o quanto amo as pessoas,
O quanto me são caras e importantes,
Como eu me sentia na infância,
Mesmo que estejam, como já estive, apenas vivendo
Sem se dar conta de tudo, inocentemente
Que tudo nessa Terra, tem tempo,
Tem fim. Fim.