No dia da minha morte
Não terei azar ou sorte,
Não terei a benção de todos os santos
E ninguém cobrirá meu corpo com um manto branco.
 
As pessoas dirão ter-me conhecido por acaso,
Outros questionarão porque parti,
Alguns pensarão que são amigos eternos,
Mas nenhum deles saberão quem realmente fui.
 
Não se reconhecerá a luta entre o bem e o mal
Ou quais as moléstias que trarão fim ao mundo.
 
Os cegos não verão, os surdos não ouvirão,
Nenhum milagre se fará.
 
Sequer o desdobrar de sinos místicos
Ou lágrimas de carpideiras,
Apenas cadeiras enfileiradas
Para as visitas já cansadas de esperar.
 
Flores serão desperdiçadas
Sobre meu peito.
Falarão sobre o respeito
Que tiveram por mim em vida,
E das alegrias e tristezas
Tao comum a todos os vivem.
 
As portas suntuosas do salão
Se abrirão no horário determinado
Para a morte encontrar a alma
Na extrema unção.
 
Dirão também que eu vivi
Como gostaria de ter vivido
E que sonhei mais do que pude conquistar.
 
Parentes terão de esperar na fila
Para me beijar na testa.
Como não tenho inimigos,
Não haverá festa.
 
Sem saber quando,
Não poderei escolher o que vestir,
Mas para ser sincero, espero
Que ninguém me vista um terno
Que nunca quis usar.
 
Terei o olhar dos filhos
Culpando-se por não ter
Aproveitado mais
A nossa convivência,
Mas a paciência dos mortos é infinita.
 
A companheira, de coração despedaçado
Por ter jurado amar-me até a morte,
Fará a promessa de ser forte
Até o último de seus dias.
 
E sem nada saber sobre a eternidade
Continuarei imóvel no leito de flores
Até que me levem corpo e espírito
Para onde vivem os anjos.
 
MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE
Enviado por MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE em 18/09/2017
Código do texto: T6118094
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