o morto
enterrar um morto
não faz sentido, preferimos
acolhê-lo, jogar água em
seus olhos, preferimos respirá-lo
na esperança que acorde, mas
morto está morto, já não canta,
não dança, nem faz fofoca, o morto
é comida de outros pares, o morto
não faz promessa, nem leituras
de mão, o morto não pensa, insinua
na lembrança de alguns irmãos, o
morto esqueceu a taboada, não
faz mercado, nem se espanta com
esse quadro, não se sente, o morto
não joga xadrez, mesmo assim os
vivos os carrega com se fosse um amoleto,
um fardo de dor e crueldade, imerso
no coração dos vivos, existe como
espantalho.