o morto

enterrar um morto

não faz sentido, preferimos

acolhê-lo, jogar água em

seus olhos, preferimos respirá-lo

na esperança que acorde, mas

morto está morto, já não canta,

não dança, nem faz fofoca, o morto

é comida de outros pares, o morto

não faz promessa, nem leituras

de mão, o morto não pensa, insinua

na lembrança de alguns irmãos, o

morto esqueceu a taboada, não

faz mercado, nem se espanta com

esse quadro, não se sente, o morto

não joga xadrez, mesmo assim os

vivos os carrega com se fosse um amoleto,

um fardo de dor e crueldade, imerso

no coração dos vivos, existe como

espantalho.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 17/09/2017
Reeditado em 17/09/2017
Código do texto: T6116644
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