IDENTIDADE
Quando nasci
eu tinha um nome
e uma certidão.
Quando era criança
eu tinha um apelido
e muitos amigos.
Hoje, que cresci,
eu tenho um título
e vários números.
Espelho, espelho meu:
Quem sou eu?
Hoje sou inscrito
registrado
cadastrado
e digitalizado.
Tenho RG
CPF
PIS
CEP e uma infinidade de códigos.
Assim vou número-vivendo
no meio de siglas e senhas
cifras e cifrões
com um pé no exercício
e outro no ano-base.
Sombra existencial.
Passos monitorados
num mundo impessoal.
Amanhã, no meu obituário,
morrerá o nome
ou morrerão os números?
Morte física
ou virtual?
Enterrado
ou deletado?
Caixão
ou terminal sem conexão?
Espelho, espelho meu:
Quem fui eu?
(Classificado em segundo lugar no concurso "29a. Noite Nacional da Poesia" realizado pela SECTUR/UBE-MS)