Borboletas

E por recordar da velha rua,

do por-do-sol cor-de-telha,

é que vez por outra choro escondido,

lembrando de um tempo que jamais existiu.

Quando via pela janela uma desconfiança,

de velhas senhoras e vendedores ambulantes,

de ciganos com tachos de cobre passando,

e mães recolhendo seus filhos.

Quando morre a inocência,

não é mais possível subir em um pé de manga,

nem provar uma jabuticaba com semelhante gosto.

Saudade é uma coisa insossa, que não tem cheiro.

Nem da poeira da rua sem saída,

nem da fritura da casa de minha avó.

E quando chove, não há mais represas de lama,

nem figurinhas da seleção brasileira,

nem cadernos cheios de rabiscos,

nem noção de que um dia, eu também serei saudade.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 17/08/2007
Código do texto: T611469