Borboletas
E por recordar da velha rua,
do por-do-sol cor-de-telha,
é que vez por outra choro escondido,
lembrando de um tempo que jamais existiu.
Quando via pela janela uma desconfiança,
de velhas senhoras e vendedores ambulantes,
de ciganos com tachos de cobre passando,
e mães recolhendo seus filhos.
Quando morre a inocência,
não é mais possível subir em um pé de manga,
nem provar uma jabuticaba com semelhante gosto.
Saudade é uma coisa insossa, que não tem cheiro.
Nem da poeira da rua sem saída,
nem da fritura da casa de minha avó.
E quando chove, não há mais represas de lama,
nem figurinhas da seleção brasileira,
nem cadernos cheios de rabiscos,
nem noção de que um dia, eu também serei saudade.