CARRO em CHAMAS
Em dúvida, observo o solo infértil
e o mar em holocausto do meu espírito,
e vejo o quanto abandonado vegeto
dramas no caos como cão aflito.
Raios silenciosos como navalhas
repentinamente transfiguram o céu sombrio,
para que eu desembanhe a espada do delírio
como um bárbaro louco estimulando a gentalha
a rir do mergulho no fogo, pois já
não suporto o peso deste tempo
em que é vitorioso o urubu que ao viajar
no sonho alheio termina monarca
de um abismo rasteiro e sujo.
Não entendo das leis votadas por incultos
em palácios frios, mas, se conduzir
o carro em chamas é minha sina
nesta rua sem saída, acelero gargalhando
o meu destino, coroado de lixo e insultos,
e deixo o sangue embriagar as formigas
e o amor como moeda velha é o meu indulto