O ESTRANHO
Dos sons dos violões de brando timbre em vão lembrando
Vagueia por recantos e estações, de quando em quando
A dar vazão ao pranto antigo, alcança esmola, riso, aceno
Hostil, já não se importa, todo brios, mendicante obsceno.
Voltar traz mais lembranças que lições, as ilusões que perde
Agora alguém plantou, feliz e ingênuo, em dia verde
Em solo mais propício a granito que ao trigo,
E o amor não voltará nem por demandas dum jazigo.
Contudo arrasta os passos, perde o prumo e aos tropeções
Procura, à noite, a origem desses sons
Que ferem, claro, o peito aflito à míngua até da Graça,
Mas falam dele, ali, cruzando a estranha praça.
Ah, quem dirá do nome pelo qual atenderia
Ao chamado de alguém que o convidasse, em noite fria
À festa, ao tilintar das jóias, taças em fausto banquete?
Quem desse nome lembraria em seis dias ou sete?
Ninguém no vilarejo com tabernas, sem pensões,
Ninguém que o visse assim, espectro entre as visões
De noite tão banal e que no entanto dura
O enredo, a trama ambígua duma tela obscura.
E à origem desses sons de violões de brando timbre chega,
A noite a dar sentido ao que foi pura entrega,
E os que o sepultarão não o tem por inimigo
E o amor não voltará nem por demandas dum jazigo.
.