Esvaziar-se
Armei o corpo
Para o desejo
Mas o que veio
Foi a madrugada
Largada
Sobre os ombros
De uma carne
Cansada
Arrumei o corpo
Dei lhe presentes
Vestes, coisas raras
Perfume, brilhos
Jóias, sandálias
Emulsões, esmaltes
Rendas e outras
Taras
Ajeitei o corpo
No sofá da sala
Fiz as malas, a bolsa
A necessidade dos
Óculos, desenhei
Estradas e partidas
Para uma eventual
Chegada
Arranquei do corpo
Toda cobiça, toda
Noite, todo o cheiro
Toda baba, todo som
Toda navalha, toda
Bebida, toda pintura
Toda a raiva, toda a
Paúra, toda risada, toda
Decência, toda vergonha
Esvaziei o corpo do amor
Que lhe enchia a cara
Milton Oliveira
12set/2017