VAGO VOO.
Me acho insignificante,
misturo-me no mesmo
saco das coisas invisíveis,
o simples me antecipa e
me encanta,
sou sabiá nas manhãs,
nas noites me extravaso,
sapos orvalham o sertão
e os sonhos,
formigas derrubam matas,
o que me satisfaz
não faz falta ao mundo,
vivo de micharias ,
os cantos da noite
me repletam mais que
concertos,
fui gerado para reverenciar
o que o mundo não vê,
a aurora é minha,
nela deposito meu olhar,
minhas mãos me apontam
o que o mundo não come,
meu corpo evola
sobre rios e riachos,
pássaros atravessam
o silêncio,
eu a vida,
amo no habitual das pedras,
entro e saio dos meus
abismos,
corrijo minhas trilhas
medindo o sertão,
sou dia e noite,sol e
estrelas,
sou adequado para águas
de riachos,
essas que lavam as areias
e esculpem as praias,
sou o que há em
Tizil e Garças,
as mãos do sertão
me embrulha,
fico viável para passos
curtos e longos,
estou onde não me encontro,
lá me preparei para
estar aqui,
sou o que vem após as podas,
o mundo leem as poesias
com olhos,
os poetas as leem com a alma,
vi uma paisagem se escondendo,
paro o poema, para salva-la,
me retiro, estou noutro pote,
ei de escapar-me,
mas sei que longa
será a estrada,
vago voo, nesta eterna
"modernidade".