GAVETA DO TEMPO
Abri a gaveta do tempo,
olhei bem fundo lá dentro
tentando encontrar meu passado.
O passado estava lá
totalmente empoeirado,
coberto, repleto de teias,
que uma aranha vermelha
teceu para resguardá-lo.
Encontrei flores, amores,
canções antigas, perdidas,
fotos, já, tão amarelas
que eu mal me vejo nelas,
tanto o tempo me roubou.
Porque o tempo,
o tempo rouba.
Todo dia ele modela,
dá retoques em sua obra,
tira, põe ou joga fora
num incessante trabalho.
O que sobra são retalhos:
são aquilo que eu sou.
(jan-2005)