De onde partem minhas crenças

Antes de nascer,

porque nascer começou antes,

eu ouvi o rio.

Não tinha olhos nem boca

e já sabia a cor do poente.

Muitas águas depois,

isso se repetiria.

O que vi,

de nascença, ainda cega,

foi uma flor.

Desde então,

soube o que veio

parar no poema.

Ninguém oferece flores.

A flor, qual amor,

em sua existência

já é oferenda.

E senti, nas linhas da noite,

que seguiam o curso

vermelho da placenta,

o mesmo

que leva ao coração das coisas,

uma mão tocando meu corpo.

Descende do rio, da flor e de um parteiro

a minha verdade:

Eu nem tinha voz

e meu corpo já respondia.

Aprendi a chorar.

Foi só depois,

muitas horas depois,

possivelmente no crepúsculo,

que o sol me banhou de luz.

Daí que demoro muito a ver com os olhos,

sempre ocupados em me molhar.

Mas sempre acreditei,

antes do que eles viram.