CANTO QUE ENFADA
Ficar feliz com migalhas
Lançadas pelo que passa,
Ciscar o pão (que mofou)
Nessas calçadas
Ser solidário das gralhas
Que me desprezam na praça
Quando, tolhido em meu vôo,
Canto o que enfada
Ter por amigas canalhas
Águias velhacas, ser caça
Dessas famintas – não vou
Com revoadas
Nem por um pio (ou o que o valha)
Ver minha própria desgraça
Num céu que a noite levou,
Indelicada
Quando, por fim, sob mortalha,
Dentre as manhãs a mais baça,
Deixar-me, que a vida voou,
Resta só o nada
.