FRIA E FORTE
É noite de muita chuva.
Chove em todo o país;
toda planta se curva,
da copa á raiz.
O vento sopra ferozmente
contra os barracos de favelas
que desmoronam fragilmente
sobre suas portas e janelas.
Tudo é só tristeza e dor,
pois a chuva fria que cai
não me devolverá o calor
que junto com o meu barraco vai.
Caindo afora pelo morro
de encontro com a cidade,
como alguém pedindo socorro
em meio a tanta ansiedade.
A chuva fria e forte
vai caindo pelo chão,
arrastando a minha sorte
e magoando o coração
que se desfaz de tristeza,
vendo a chuva desmoronar
os meus sonhos e as belezas
que eu lutei pra alcançar.
Belo horizonte (MG), 24 de abril de 1986.