no dia em que tinhas morrido

No dia em que tinhas morrido

No dia em que tinhas morrido,

Esbaforido de suores frios,

Poderias ouvir os grilos

Orquestrados nesse vazio…

No dia em que tinhas morrido

Ainda miavam os gatos

Nos telhados carcomidos…

À fuga dos cães vadios,

Seus parceiros para a fuga.

No dia em que tinhas morrido

Sentindo a alma soltar-se

Desse corpo dolorido

De saudades…

No dia em que tinhas morrido

Já tão fraco, sussurrando

Uma sede inexistente

Lembrando a água da fonte,

As fontes das felicidades…

Por alguma maldade delas

A lembrar-te passagens

Que havias deixado

Esquecer dálias…

No dia em que tinhas morrido,

Num colchão fedido, urinado,

Colhias a unção derradeira

De seus entreveros, o Padre.

Acenderam-se as luzes

Além da janela apagada

Ao sol da tarde…

No dia em que tinhas morrido

Não chovia, como antes,

Não aplainava seus constantes

Apelos às enxurradas…

Mas apenas os olhares mudos

À volta de sua cama

Deixavam-se em murmúrios

Sobre fatos e boatos

Desse dia fatídico, como

Tivesses morrido de verdade,

Uns comentários maldosos

De já vais tarde…

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Enviado por sergio donadio em 04/09/2017
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