Eu teria sido, quem sabe, um advogado,
Desses engravatados, cabelos penteados,
Que ganha muito dinheiro,
E nunca está feliz.
Seria, talvez, um engenheiro,
Construiria um mundo inteiro
E ainda assim não saberia onde morar.
Se funcionário público fosse,
Morreria de tédio.
Um agricultor até,
Plantaria um pé de mangas
E dormiria eternamente à sua sombra.
Motorista, eu não seria,
Não saberia a distância
Entre a terra e o céu.
Cardiologista, não,
Não poderia tratar o coração dos outros
Se não consigo tratar meu próprio coração.
Ainda se fosse um colecionador,
Ao invés de coisas,
Colecionaria amores.
Mas a vida quis
Que eu fosse poeta,
Pois só com poesia a vida se completa.