OLHOS RESOLUTOS
Senta-se na sarjeta, cedinho do dia.
Não joga conversa fora,
Nem quem passa ela espia.
Cuida do saber, ali no meio-fio,
parte das ancas no gramado,
Parte no cimento frio.
O trabalho aguarda-a, assim que subirem as portas do shopping.
Ela sabe que quer outra vida,
Que não a de balconista.
Faz anotações no livro,
Caneta colorida,
Destaques e alertas, uma pista.
Nada sei sobre ela,
Os livros são diversos.
O de hoje, com destaques amarelos, em cada linha sublinhada,
É de biologia,
eu vi.
O de ontem, em cor verde,
A literatura e sua poesia,
os versos senti.
Não ficará muito tempo na sarjeta
A garota de olhos resolutos.
Logo estará no alto,
Dará um salto.
Ainda há jovens assim,
Graças a Deus,
São eles astutos, sairão do asfalto
À frente, por própria vontade.
Destacam hoje as frases com canetas coloridas
E serão destaques
Nas batalhas mais renhidas.
Jovens que abrem livros,
Esquecem o barulho das ruas, mergulham no saber.
Haverá para eles o momento
Em que serão cerradas
as portas do shopping, santo unguento
e lhes virão o dia das horas esperadas
E eles subirão,
plenos de glória,
Os degraus do alvorecer.
Eu verei você, Maria,
Craque em biologia
Tirar os olhos do livro marcado,
Ostentando poesia.
Dalva Molina Mansano.