OLHOS RESOLUTOS

Senta-se na sarjeta, cedinho do dia.

Não joga conversa fora,

Nem quem passa ela espia.

Cuida do saber, ali no meio-fio,

parte das ancas no gramado,

Parte no cimento frio.

O trabalho aguarda-a, assim que subirem as portas do shopping.

Ela sabe que quer outra vida,

Que não a de balconista.

Faz anotações no livro,

Caneta colorida,

Destaques e alertas, uma pista.

Nada sei sobre ela,

Os livros são diversos.

O de hoje, com destaques amarelos, em cada linha sublinhada,

É de biologia,

eu vi.

O de ontem, em cor verde,

A literatura e sua poesia,

os versos senti.

Não ficará muito tempo na sarjeta

A garota de olhos resolutos.

Logo estará no alto,

Dará um salto.

Ainda há jovens assim,

Graças a Deus,

São eles astutos, sairão do asfalto

À frente, por própria vontade.

Destacam hoje as frases com canetas coloridas

E serão destaques

Nas batalhas mais renhidas.

Jovens que abrem livros,

Esquecem o barulho das ruas, mergulham no saber.

Haverá para eles o momento

Em que serão cerradas

as portas do shopping, santo unguento

e lhes virão o dia das horas esperadas

E eles subirão,

plenos de glória,

Os degraus do alvorecer.

Eu verei você, Maria,

Craque em biologia

Tirar os olhos do livro marcado,

Ostentando poesia.

Dalva Molina Mansano.

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 01/09/2017
Código do texto: T6101688
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