=NO TEMPO DOS QUINTAIS
No tempo dos quintais...
- I –
No tempo dos quintais eu festejava a vida
sem qualquer preocupação que fosse.
Tudo era nuvem, sonho, vertigem:
No tempo dos quintais...
Vejo-me agora no alto da goiabeira, percalço de galhos espontâneos,
entrelaces de brisas refrescantes que balançavam os galhos do meu trono:
No tempo dos quintais...
No tempo dos quintais eu era tudo... Tudo mesmo que eu quisesse!
Um ponto aberto sem reprimendas:
Cantor, saltimbanco; o que surgisse:
No tempo dos quintais...
No tempo dos quintais, o vento era doce... E eu podia senti-lo de uma só vez ensinando-me sem pressa
As cantigas do mundo!
No alto,
nas grimpas da goiabeira ora era deus, ora ponto...
Ponderava fantasias
disputando goiabas com meu irmão...
No tempo dos quintais...
O mais difícil mesmo, era abdicar
de ser um ponto abaixo na posse do meu trono:
Em 03.08.03
Ronaldo Trigueiros Lima
No tempo dos quintais...
- II -
Vejo-lhe ainda meu quintal do “faz de conta”
entre pausas de imagens anoitecidas...
Saudade fotografada e compelida:
Rio - lágrima, que corre na lembrança.
Vejo-lhe agora num clarão da memória
que acende o céu com lágrimas e melaço,
enquanto os pés se divertem no compasso
que determina o pulo da fogueira.
A batata encandeava meu espanto
com cozimento e faíscas estaladas...
E as histórias surgiam ornamentadas
pelo tempero que traz medo às crianças.
Lá em cima, além do além da goiabeira,
“varando” limites do dito real,
um sopro de vento levava o balão
à terra do nunca, distante do chão...
Em 26.03.06
Ronaldo Trigueiros Lima