ERRANTE
ERRANTE
Errante
Por caminhos errantes
Ou seriam errados
Passa pelo amarelado
Que há pouco era arroxeado
Caminhos de ipês
Que pela brisa amena
Tapeteiam o chão colorindo-o
Na secura do tempo
A umidade dos olhos
Se exacerba e turva
À beleza incontida
Ronco de motores
Alarido de vozes
Anuviam o caminho
Desenhos de nuvens
Obscurecem um pouco o azul
E ligeiros cinzas dão mãos
Ao negro do asfalto
Um bem-te-vi
Benteviteia
Contra assovios de um gavião
Faminto e também errante
A busca de comida
Que escasseia
Assim como também falta
Àquele corpo deitado ao solo
Sujo e maltratado
Evaporando álcool
Aos poucos morrendo
De fome que toma forma
Em seu esparso corpo
Recoberto de frangalhos
Antes fossem frangos
Todos o veem
Ninguém o enxerga
A não ser meninos
Com suas mochilas deseducadas
Carregadas de sonhos e pesadelos
Quem sabe de livros
Que não leem
Não há fome de aprender
Apenas brincar de estudar
Mendigos de letras
E de calcular
Quem sabe no futuro
Encontrar-se-ão em marquises
Ou em manifestações desfuturadas
Quebrando tudo
Principalmente a cara
Numa vida despropositada
Sem ipês nas ruas
Sujas de desumanidade
Sem cor
Dominadas pela escuridão
Da decrepitude dos seres
De barro desfazendo-se
Em águas vermelhas
Em que centelhas e humanos
Terão entrado pelo cano
Enterrados num chão
Donde nunca deveriam
Ter sido erguidos