O rei está nu
Pela alegria de te amar, teci o mais lindo pano;
bordado em carinho, forte como linha de destino,
feito um raio de luz, profundo, jamais mundano,
com fitilhos de adulto, sério, e de amor menino.
Te amando, eu fiz tendas, mantos, e tudo te dei,
a agulha do meu ventre coseu uma trama louca,
te vestiu do melhor homem; um farto-fausto-rei,
depois, te viu pedinte, mendigo, de sanha pouca.
Te amaria de novo, mas usou tudo com desleixo,
e tua roupa perdeu o brilho claro-intenso da lua,
a vida corrompeu fios num tear de estranho eixo
e agora não mais costuro, tenho até andado nua.
Te amei ontem, hoje, nem bordo e tudo esqueço,
no meu guarda-roupas não cabe imitação avessa;
a vida me oferta tecidos novos de amor e apreço,
e você optou a ser rasgo puído d'uma triste peça.
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