TERÁ FORÇA DE ÍGNEA VOZ QUEM DO AMOR FALE
Sigamos o cortejo, nele vai o morto, é um nome no esquife
finda a vida no cada-leito, féretro, caixão ou tumba
encaminhemos ao fosso o silêncio, a voz insepulta do sujeito ao leito
que mesmo depois do enterro há de formular outras perguntas.
nada tem de realmente seu o nome próprio de cada um
para receber sinal diferenciado no curso da escrita de uma vida
se ali do lado do cujo que segue para o sono profundo
a lápide é poema curto que anuncia ‘aqui quem não conheceu o amor’.
não importa que dele se despeça quem se ache vivo
porquanto o belíssimo ataúde e a limpíssima mortalha
igualmente a todos cobre com o nada mais que emudece e o mais nada que nos mude.
seja sob o peso do caro mármore ou debaixo da novíssima cova rasa
permanecerá de nós oculta a diferença bruta
que faz merecerem alguns nomes próprios
o sinal, o grifo ou a letra maiúscula na lápide
por terem sido da consciência de voz aguda
em vida emissários amantes do ser absoluto.
Se contudo não calar na dura face talhada
o nome que na hora amarga da boca saia
ao notar que na vida nunca tivera amado
terá força de ígnea voz quem do amor fale.
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Baltazar