TERÁ FORÇA DE ÍGNEA VOZ QUEM DO AMOR FALE

Sigamos o cortejo, nele vai o morto, é um nome no esquife

finda a vida no cada-leito, féretro, caixão ou tumba

encaminhemos ao fosso o silêncio, a voz insepulta do sujeito ao leito

que mesmo depois do enterro há de formular outras perguntas.

nada tem de realmente seu o nome próprio de cada um

para receber sinal diferenciado no curso da escrita de uma vida

se ali do lado do cujo que segue para o sono profundo

a lápide é poema curto que anuncia ‘aqui quem não conheceu o amor’.

não importa que dele se despeça quem se ache vivo

porquanto o belíssimo ataúde e a limpíssima mortalha

igualmente a todos cobre com o nada mais que emudece e o mais nada que nos mude.

seja sob o peso do caro mármore ou debaixo da novíssima cova rasa

permanecerá de nós oculta a diferença bruta

que faz merecerem alguns nomes próprios

o sinal, o grifo ou a letra maiúscula na lápide

por terem sido da consciência de voz aguda

em vida emissários amantes do ser absoluto.

Se contudo não calar na dura face talhada

o nome que na hora amarga da boca saia

ao notar que na vida nunca tivera amado

terá força de ígnea voz quem do amor fale.

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Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 28/08/2017
Reeditado em 23/01/2018
Código do texto: T6097841
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