ESSAS NOITES
Essa noite, ah essa noite...
Essa noite aqui tão distante!
Permeando o céu desse sertão,
com historias de amor amada amante
e o pulsar, desse meigo coração.
Berrante, e o encanto da boiada
espantando do galho, o velho sabiá
o bordado a renda, na saia da amada
já fez, os olhos do amado chorar!
Ali, na fogueira do senhor são João...
A prosa do cordel, o assado milho
a estrela encandeando a velha paixão
o violão a tilintar com o grilo do grilo.
As historias de trancoso, junto a lira
o arco, a flecha, a mira do querubim
o velho garboso que a menina mira
olhos atirados, se atirando por ali.
O pespontar da noite na fogueira
o crepitar da brasa no peito seu
o olhar d'aquela moça, toda faceira
petrificando, pelo abano do adeus.
O penso denso da noite escura...
Tricotado pelas labaredas da aurora
o sol rasgando o amanhecer com a cura
e o pesadelo, eclodindo sob o agora.
Essa noite, ah essa noite!
Essa noite, tão minha, tão sua, tão nua...
Essa noite da cidade iluminada
apenas pelo postes, dessas ruas.
Não tem fogueira, nem historias p'ra você
... Milho, batata assada, nada, nada!
A noite na city e permeada pela TV
e os contos, não são mais da velha fada.
As historias são horrores do planalto!
Aonde permeia ali, os contos de ali-baba
terceirizando, privatizado, até mandatos
e dane-se quem morar do lado de cá.
Barulhos, estampidos nos meus tímpanos
o medo saltando cru, pelas calçadas
o viver atrás dos muros, eu não acredito
que uma noite por aqui, nunca é nada.
As noite das cidades, estão sem sonhos!
E a esperança, dança ao fio da navalha
me valha, me valha! Desse triste abandono
deixe-me seguir tranqüilo, a minha palha.
Antonio Montes