Um poema assim
Eu queria escrever um poema que espelhasse a tua vontade de ser espelho; E espelhasse a profundidade da profundeza em que penetraram as sementes do teu sêmen ao fecundar a vida.
Eu queria escrever um poema onde brilhassem as palavras como brilham teus olhos ao falar da árvore-fruto, e dar às palavras a seiva que corre o teu corpo a cada poema dirigido a essa vida.
Eu queria que as linhas se abrissem como teus poros e toda a respiração das palavras dissesse do útero que há em tua pele, tatuada dentro e fora por esse segredo que te traz e leva, de uma margem à outra da vida.
Eu queria que cada letra exaltasse a maternidade que há em tua paternidade, tão sua, tão poética, tão ali e dentro, e pudessem tocar o teu semblante diante do mistério das águas e do rio que há em teu riso.
Eu queria um poema verdadeiro sem verdade, intenso na cor, como as notas amanhecentes; com cheiro poente nos espaços de cumplicidade e brancura, só lembrar do pai que em ti é pura expressão de luz e amor.