Rio, agonizante regue sua relva combalida e ferida
Com seu lamento e o extravasar das vazantes marés golfadas das sobras.

Mar, regue sua orla mexida e agredida
Com a salmoura da crista da onda á ungir a areia que teima em ser alva.

Vento, não conte mais tempo regue a estrada coberta de poeira
Arrastando ligeiro toda presunção fincada ao som do orgulho dos falhos do mundo.

Mata fechada,  regue com sombras sobrepostas
Toda casta presumida, etérea, exclusiva e presunçosa.

Fogo, altivo e soberano regue os tolos
Que no gelar da emoção derreta a ruindade de seu coração marcado e vilipendiado.

Chuva, lençol umedecido regue seus filhos desprotegidos
Secos por fora, secos por dentro, suscetíveis a dor do sofrer da solidão.

Sol, rei da energia vital regue todas as suas manhãs virginais
Com luz e calor revigorantes, que nutre o acordar dos maus e dos bons, todos os dias bem cedo.

Terra, mãe mantenedora regue sua prole indecisa
Que fere, que mata, extermina e dizima os raros ocultos e indigentes também de sonhos.

Morro, chapado e esculpido regue com orvalho espesso
O combro caído e sinuoso que o acompanha desde as encostas ao chão chuviscado.

Céu azul ou cinzento regue suas noites cobertas de estrelas, soltando centelhas
Num festival de luzes dicroicas á colorirem o firmamento, ainda de pé.  

Forças da natureza reguem com sabedoria a mente humana
Que de tanto errar fez calos na alma e precisa extirpá-los e voltar a viver, e em paz!