saudades dA Tua Casa
me deste um novo coração
por tanto amor e tanta compaixão
me chamaste pelo meu nome
antes do mundo em sua fundação
e me puseste em teu coração.
o teu amor me encontrou
e me deste um lindo caderno!
para que eu comece de novo
uma nova história contigo
de perdão, amor e comunhão.
mas te peço perdão, meu senhor
meu senhor, pai da minha criação
porque chora ainda o meu novo coração
e eu sei que o teu amor me basta
e somente, sobre mim, a tua definição
mas é que o desprezo fere
e eu também tantas vezes feri
mas não seria suposto
exercermos o teu amor
e esquecermos tudo dantes
como tu, por amor, já nem lembras mais
do que fui ou fomos sem ti?
o desprezo é lança que fura
bem no meio do meu coração
retira-me todas as forças
e sou grata porque tu me ergues.
mas se me permites este espinho
para que eu lembre-me do que é viver sem ti
e que o teu amor é muito, muito mais...
bendito seja este desprezo
pois andar contigo é sempre paz
comprazo-me na humilhação e no desprezo
"pois a tua graça me basta"
e em ti, tudo novo se faz.
não compreende todas as coisas
esta minha alma errante
sem ti, sou o ser mais desprezível
e justificas-me.
e pacificas-me.
e permites-me
que eu enxergue-me sem medo
de olhar para trás.
constrange-me o teu amor
e eleva-me ao teu abraço acolhedor
e olho no espelho do agora
e tão bonito refizeste o meu olhar
pois que reluz em mim a tua luz
e escuto a tua voz no teu mar.
pocilga de barro eu fui
perdida dentro de mim
hoje, flor do teu jardim.
usa-me para o teu reino
para o que quiseres tu de mim.
para confundir o teu mundo
com este amor tão profundo
amor que eu não entendo
com a tua misericórdia tamanha
que eu nunca, nunca compreendo.
meu senhor...
cura-me de mim esta minha dor.
ela consome a minha alma tua
mas se o teu desejo for
que seja permanente o meu espinho
passarei a beijá-lo todos os dias
porque eu só senti em mim a verdadeira
paz sem fim, a única e derradeira
no teu regaço de pai, minha videira.
meu senhor...
apenas ajuda-me com a minha cruz
sopra o teu consolo em minhas lágrimas
com o frescor santo de tua boca e luz.
peço-te que me ajudes comigo mesma
porque há dias de tanta tristeza...
e a porta que tu já trancaste
dentre tantas, esta, a ventania do amor abre
e mostra-me um amor tão infinito
e mostra-me o amor, daqui, o mais bonito
e mostra-me um amor tão ferido
desses que tu sabes que eu magoei
sim.. tu já me perdoaste
sim.. eu já me perdoei.
mas o desprezo é lança que fere
e deixa-me o coração tão aflito
que faz trasbordar do meu olhar um rio.
sigo, oro, louvo, agradeço e choro
santo! tu és o grande Eu Sou.
e eu confesso-te só um lamento meu:
eu queria ter te conhecido antes
quando a inocência em mim quebrou.
mas sou grata, de instante em instante
por todo o teu imutável amor.
por este teu amor que me salva
por este teu amor que me cura
este amor que a tudo restaura
por este teu amor que constrange.
… sinto saudades da tua casa …
e se da tua vontade for
não me deixes aqui muito tempo...
eu não encaixo aqui e tu sabes
sempre foi assim e tu sabes
ando muito, muito cansada de mim.. ajuda-me.
sinto muito, muito medo... ajuda-me.
tu afirmas que todo aquele que te ama
lança fora todo o medo.. ajuda-me.
tu me salvaste, meu senhor
e é contigo que eu vou estar.
a servir, sorridente, à tua mesa
a servir, grata, a tua casa
tua serva sou, meu senhor...
por teu amor, somente por teu amor.
… sinto saudades da tua casa …
Karla Mello
24 de Agosto de 2017