KAISER NINGUÉM IX

Eu sou a pipa e o cerol, na favela, uma criança

Sou a ripa e o farol, a sequela da esperança

Eu sou filho de ninguém, ou alguém sem importância

Sou o brilho do desdém na palavra tolerância

Eu sou o labirinto dos caminhos tortuosos

A revolta do faminto contra o ninho dos gulosos

Eu sou a opção, dada a voz da senciência

Sou a culpa do ladrão e o algoz sobrevivência

Eu sou do morro do socorro, onde a lei não se aplica

Sou os olhos do cachorro e a vontade que suplica

Eu sou a consequência da clivagem social

Sou o ódio da imprensa e o selvagem marginal

Eu sou a gangue da alvorada, meu amor é a natureza

Eu sou o sangue e a emboscada, numa luta por grandeza

Eu sou o objeto que transcende a vizinhança

Meu recado é direto, se desprende da vingança

Eu sou o mundo globalizado, sou a presa das potências

Sou o valor ultrapassado e a sombra da eloquência

Sou um mundo humanizado na beleza da vivência

Sou o bem conjecturado para a nova consciência

Eu sou discípulo de Zaratustra na montanha do Dragão

Sou currículo de guerra justa, eu sou o lobo e o leão

Eu sou o fim da velha ordem e dos poucos que a mantém

Dos abismos que se erodem, eu sou o Kaiser Ninguém

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NoOnee
Enviado por NoOnee em 23/08/2017
Reeditado em 18/06/2018
Código do texto: T6092723
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