KAISER NINGUÉM IX
Eu sou a pipa e o cerol, na favela, uma criança
Sou a ripa e o farol, a sequela da esperança
Eu sou filho de ninguém, ou alguém sem importância
Sou o brilho do desdém na palavra tolerância
Eu sou o labirinto dos caminhos tortuosos
A revolta do faminto contra o ninho dos gulosos
Eu sou a opção, dada a voz da senciência
Sou a culpa do ladrão e o algoz sobrevivência
Eu sou do morro do socorro, onde a lei não se aplica
Sou os olhos do cachorro e a vontade que suplica
Eu sou a consequência da clivagem social
Sou o ódio da imprensa e o selvagem marginal
Eu sou a gangue da alvorada, meu amor é a natureza
Eu sou o sangue e a emboscada, numa luta por grandeza
Eu sou o objeto que transcende a vizinhança
Meu recado é direto, se desprende da vingança
Eu sou o mundo globalizado, sou a presa das potências
Sou o valor ultrapassado e a sombra da eloquência
Sou um mundo humanizado na beleza da vivência
Sou o bem conjecturado para a nova consciência
Eu sou discípulo de Zaratustra na montanha do Dragão
Sou currículo de guerra justa, eu sou o lobo e o leão
Eu sou o fim da velha ordem e dos poucos que a mantém
Dos abismos que se erodem, eu sou o Kaiser Ninguém
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