PARABÉM

Parabém pra você que ressurge do nada

Que assanha os cabelos e engole

às pressas um trago de água

ardente, cheia de graça

na praça.

O banco vazio ao seu lado espera um visitante

anônimo, esquecido e apregoado várias

vezes em protocolo pelo porteiro do

tribunal de contas da vida onde

o juiz incauto condena

sem pena.

O largo da praça é palco pra meninas e seus ventres

crescidos sem endereço e com praga de mães

contra os destinos das filhas cheias que

escolhem fugir do chicote e do medo,

da mácula e da vergonha

de crerem em cegonha.

O absurdo e o nó guardam amarga semelhança

com o vazio pardo na boca do estômago do

jovem farol sem pilhas às seis da tarde

correndo pra sua amada ferida

e perdida nua

na rua.

O encontro sombrio e doloroso revela um sonho e uma

verdade escandalosa com traços de picadeiro

boca vermelha e olhos pintados de azul,

muita maquiagem colorida.

É a vida e o defeito

sem direito.

Ancelma Bernardos
Enviado por Ancelma Bernardos em 22/08/2017
Reeditado em 22/08/2017
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