O Apocalipse das matas
— Cadê minha mata virgem?
Sem o homem tocar
— Cadê a orquestra das matas?
Com os seus pássaros a cantar
— Cadê o oxigênio do mundo?
Que não se pode respirar
Jaguatirica e Sussuarana
Macaco-prego e Tamanduá
— Cadê meu Mico-estrela?
— Cadê meu Lobo-guará?
Sapucaia e Seringueira
Palmito-juçara não há
Pau-rosa e Andiroba...
— Cadê meu Jatobá?
Imbuia e Castanheira
Cedro-rosa e Pinheiro-do-paraná
Itaúba e Braúna...
— Cadê meu Jacarandá?
— Cadê a Madeira de lei?
Mogno e Jequitibá
— Cadê meu Pau-Brasil?
Que a muito tempo não há
Levado pelos portugueses...
Não dá mais pra recuperar
— Cadê vovô?
— Cadê?
— O netinho a indagar
Num futuro tão incerto...
Nem o papai responderá
E se não cuidarmos das matas...
Nada disso existirá.
LUNA, Gabriel de Lima. O Apocalipse das matas. Rio de Janeiro: 2016