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eu não quero saber das más notícias, mas não por isso elas vão deixar de existir.
se eu não souber dos roubos, dos estupros, dos assassinatos, se eu não souber de tudo isso, eles vão continuar acontecendo.
quando eu não sei disso tudo, e mais, quando eu não sei da existência dos falsos milagres, das quadrilhas que abusam da falta de espiritualidade e ignorância dos processos de auto-conhecimento, somadas ao desespero pela falência do sistema de saúde e o desconhecimento das leis que regem o mercado, ou aos impasses da monogamia e da incompreensão da independência da vertigem e voragem do prazer, quando eu não sei da existência dos falsos profetas que abusam da credulidade e estupidez dos idiotas, nem por isso eles vão deixar de existir.
se eu não souber de muita coisa que está a acontecer, como o reavivamento de certo tipo de pensamento fascista, a glorificação da brutalidade, a manutenção da ordem horrível de todas as coisas, a conservação da falência do projeto de progresso, a rota contínua para o abismo, se eu não souber disso que está a acontecer, tudo vai continuar a acontecer da mesma forma.
quando eu não sei disso tudo isso, essas coisas, porém, não estão acontecendo próximas ao meu coração.
não se trata de me esconder da miséria do mundo, eu sei que ainda as vou ver, mas eu não as quero agora, não agora, que estou perto do fogo que me incendeia no alto da montanha,da brisa que vem do teu corpo e do seu calor, da alma alegre de todas as boas coisas, do cheiro do relva molhada e da certeza de estar vivendo os sonhos na realidade, próximo de tudo que me faz viver e sorrir, eu não quero saber de notícias ruins, do senso comum avacalhado, de mesquinharias e de gente que escolheu naufragar com as mãos pegajosas de cimento encardido, prontas a escarrar verdades mentirosas e alimentar uma realidade horrorosa que nunca vai ser a minha.