MEDO DA RUA

Dizei ó destino de todos os homens!

Dizei quanto tempo ainda resta

Até que a terra inteira padeça

Da tirania que o medo atesta?

Silêncio! Lá vem a sombra inquieta

Trazendo no ventre sua essência.

A voz trêmula das viúvas

Não purifica a descendência.

Não! Impuras almas,

Que do inferno renasceis.

Gritai! Socorro! Alguém haverá de escutar.

Talvez agora, açoites leves

Aos condenados deixados sem par.

Sim! O padecer é fato.

Não há trono para os heróis.

A alcova antes dos nobres

Menos valiosa agora

Que o chão, albergue de pobres.

Eis o fumus da esperança

Perdida, refrega a intenção.

Trançada na vida abatida,

Esquecida ninguém faz menção.

O sonhador descalço continua

A viagem a termo e hora.

Abre o lacre da sombra nua

E pula. Terminando a história.

Quem fica pressente a vingança.

Na boca o sangue tem gosto.

Nos pés as marcas da dor

E a mãe a morrer de desgosto.

Gente que finca raízes

Qual pardais, seus pés no varal

Saí de suas vidas medíocres

Vencei, lutai contra o mal.

A paz custa caro! Comprai-a.

Veloz corre o tempo e o perdão

O ventre que gera inimigos

Também gera o trigo e o pão.

Amai a vida nas ruas

Passai, sem glória, tranquilo.

Pensai, ouve com igual apreço

O som de arpas e grilos.

O versejar dos poetas

E a alcunha do irmão de leite

Serão lançados ao vento.

A morte que os aceite!

Ancelma Bernardos
Enviado por Ancelma Bernardos em 16/08/2017
Reeditado em 16/08/2017
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