MEDO DA RUA
Dizei ó destino de todos os homens!
Dizei quanto tempo ainda resta
Até que a terra inteira padeça
Da tirania que o medo atesta?
Silêncio! Lá vem a sombra inquieta
Trazendo no ventre sua essência.
A voz trêmula das viúvas
Não purifica a descendência.
Não! Impuras almas,
Que do inferno renasceis.
Gritai! Socorro! Alguém haverá de escutar.
Talvez agora, açoites leves
Aos condenados deixados sem par.
Sim! O padecer é fato.
Não há trono para os heróis.
A alcova antes dos nobres
Menos valiosa agora
Que o chão, albergue de pobres.
Eis o fumus da esperança
Perdida, refrega a intenção.
Trançada na vida abatida,
Esquecida ninguém faz menção.
O sonhador descalço continua
A viagem a termo e hora.
Abre o lacre da sombra nua
E pula. Terminando a história.
Quem fica pressente a vingança.
Na boca o sangue tem gosto.
Nos pés as marcas da dor
E a mãe a morrer de desgosto.
Gente que finca raízes
Qual pardais, seus pés no varal
Saí de suas vidas medíocres
Vencei, lutai contra o mal.
A paz custa caro! Comprai-a.
Veloz corre o tempo e o perdão
O ventre que gera inimigos
Também gera o trigo e o pão.
Amai a vida nas ruas
Passai, sem glória, tranquilo.
Pensai, ouve com igual apreço
O som de arpas e grilos.
O versejar dos poetas
E a alcunha do irmão de leite
Serão lançados ao vento.
A morte que os aceite!