PRISIONEIRA

Minha cela está branca

nada escrito nas paredes

minha cela está fria

nenhum raio de sol.

Triste a minha cela

sem cores

sem flores

na janela.

Retenho pequenas coisas

prisioneira que sou

de um vidro

agora vazio,

do perfume

que acabou;

da revista já relida

de uma lata de biscoitos

da velha meia de lã

do meu cobertor furado

o espelho quebrado

junto do livro rasgado;

fotos já desbotadas

junto a um violão sem corda.

Vazias latas de talco

sabonete sem perfume

e essa toalha molhada...

Me prendem o esmalte vermelho

um batom , de cor grená

uma escova de cabelo

outra de dentes, branquinha...

Presa a tudo, estou mais presa

por só ter o que me prende

rezo um terço, agradeço

e na branca cela minha

com o rosário na mão

vou cantando a ladainha

enquanto olho e me prendo

a uma foto antiga, velhinha!