CÁ ESTOU
CÁ ESTOU
Impuseram-me a vida
Cá estou vivendo
Dias e noites
Dormindo e acordado
Piscando luz e treva
Por que? Porque não sei
Nem saberei
Mas a vida continua
Lisa aspereza
Feiura e beleza
Sol e lua
Vestida e nua
Entre cheiros e sabores
Alegrias e dores
Corpos e suores
Florestas e desertos
Flores e frutos
De ventres maduros
De paus duros
De folhas mortas
De ar que se respira
De veneno que se expira
De pés que nos levam
A planícies e precipícios
A caminho ermo
Por direção errática
Mas tudo levando
Ao mesmo destino
Que qual o início
Desconhecido de tudo
Em luto fechado
Queimado em fornos
Ou encaixotado
Tudo cinza
Tudo pó
Vivível apenas
Em réstias de sol
Precipitado ao chão
Assombrados
Inerte e inócuo
E extremamente inútil
Imaginando passagens
Criadas pela crença
Em almas sublimadas