CÁ ESTOU

CÁ ESTOU

Impuseram-me a vida

Cá estou vivendo

Dias e noites

Dormindo e acordado

Piscando luz e treva

Por que? Porque não sei

Nem saberei

Mas a vida continua

Lisa aspereza

Feiura e beleza

Sol e lua

Vestida e nua

Entre cheiros e sabores

Alegrias e dores

Corpos e suores

Florestas e desertos

Flores e frutos

De ventres maduros

De paus duros

De folhas mortas

De ar que se respira

De veneno que se expira

De pés que nos levam

A planícies e precipícios

A caminho ermo

Por direção errática

Mas tudo levando

Ao mesmo destino

Que qual o início

Desconhecido de tudo

Em luto fechado

Queimado em fornos

Ou encaixotado

Tudo cinza

Tudo pó

Vivível apenas

Em réstias de sol

Precipitado ao chão

Assombrados

Inerte e inócuo

E extremamente inútil

Imaginando passagens

Criadas pela crença

Em almas sublimadas

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 15/08/2017
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