Sou
Que dor é essa, que me amorna o peito
Que me retira a alma e aos poucos injeta
Sofrimento tão suave
Que quase agradeço e lhe beijo a face fria
Quem és, anjo gentil
Que me acalma o coração e canta
Tão suavemente, que até a morte
Parece consoladora.
Tu, que com um sorriso me roubas um sorriso
Que com um abraço me roubas um abraço
E com um beijo me roubas o amor
E eu, assim furtado, fico imóvel
Vendo-me esvair e alcançar as paredes
O teto, o céu. Tudo está pleno de mim
E flutuo de olhos fechados, me desfaço
Como névoa pairo através dos edifícios
E fendas. Sou infinito em meu partir
E nada me resta de saudade
Sou o que sou e minha essência
Tem a história de mil amores
Sou poeta esquecido, sou viajante fatigado
Sou aquele que descansa nos teus sonhos
E tão suavemente lhe beija a fronte
E quando acorda tens um leve gosto acre nos lábios
Um amargo suave.
Esse sou eu.
Amante da vida e da morte
Fundido com a noite e com o dia
Sol e lua me atravessam, sou eterno
Tão grande que posso ser guardado
No coração de quem ama e ocupar
Todo o espaço.
Sou o amor, a tristeza, a espada e a carne
Sou a cruz dilarerante e o desejo asfixiante
Puro, pois revelo ao mundo minhas máculas
Sou o que sou e nada sou
Repleto de vida, pungente de amor
Existo à procura de um sorriso
E nada mais importa
Pois não sou mais
Deixei de ser
Sou vazio.